27 de dez. de 2013

Copa do Mundo no Brasil e Acessibilidade (1)

Oi queridos, como estão? Preparativos para as festas de final de ano, férias?

Eu sigo enrolada com os últimos detalhes da tese, falta pouco! Mas precisei passar aqui para trazer dois materiais interessantes e que se complementam, na minha opinião, para pensarmos a acessibilidade nos grandes eventos esportivos. Ano que vem sediaremos a Copa do Mundo Fifa. Dezenas de estádios estão sendo reformados ou construídos. Também há obras para melhorar o tráfico, o transporte público, os aeroportos, a rede hoteleira, e investimentos em cursos para aprimoramento profissional. Dentro de toda esta força-tarefa eu me pergunto: e a acessibilidade? Cadeirantes, surdos, cegos, pessoas com mobilidade reduzida poderão assistir aos jogos? Terão acesso aos estádios? Poderão ir e vir, receber informações adequadas, com qualidade, terão seus direitos de consumidores e cidadãos plenamente atendidos durante este grande evento?

O primeiro material que quero compartilhar é um texto escrito pelo Jônatha Bitencourt (o primeiro texto que publicamos de autoria dele pode ser lido aqui) e postado no blog de matérias esportivas da Fabico (UFRGS). O texto questiona as condições de acessibilidade no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre (RS) que sediará jogos da Copa do Mundo. Publicamos abaixo um trecho do texto. Para ler o texto completo clique aqui.

"Contagem regressiva. A Copa do Mundo está logo ali. E em Porto Alegre começam a ser dados os retoques finais no Estádio do Sport Club Internacional, o Beira-Rio, local escolhido para sediar o evento no Rio Grande do Sul. Mais de R$ 300 milhões foram previstos para a modernização do espaço, que está em reformas desde julho de 2010. O anúncio de que as obras estão em sua fase final costuma ser recebido com muita alegria por grande parte de organizadores e torcedores. Euforia que se mistura com desilusão quando entra em campo a acessibilidade. Em meio às construções, pessoas com deficiência tentam olhar para um futuro de direitos plenamente contemplados.
“Está bem complicada a situação”, afirma o presidente do RS Paradesporto, Luiz Portinho, ao descrever a luta pela acessibilidade dentro do estádio Beira-Rio. A aparente obsessão pelo “padrão FIFA”, cujos pré-requisitos sugerem um elevado nível de qualidade, parece ter chegado a uma rua sem saída.
O decreto presidencial nº 5.296 de 2004 determina que os estádios reservem, pelo menos, 2% das vagas para pessoas com cadeira de rodas. O Internacional, por sua vez, alega que o número previsto no projeto contempla o decreto nº 7.783 de 2012, também conhecido como Lei Geral da Copa, que fixa esse percentual em um número menor, apenas 1%."

As notícias sobre a Copa do Mundo 2014 podem ser acompanhadas pelo site "Portal da Copa", no endereço http://www.copa2014.gov.br/pt-br.


O segundo material que gostaria de compartilhar é uma peça publicitária da Coca-Cola intitulada: "Seleção Brasileira de Futebol de Cegos: isso é a Copa de Todo Mundo". No vídeo, um jogador cego da seleção brasileira de futebol de cegos faz um depoimento pessoal sobre sua experiência no esporte, além de mostrarem o time conhecendo a taça do mundo através do tato (o comercial mostra uma ação da empresa que conseguiu convencer a Fifa de quebrar o protocolo, já que não existe autorização para que se possa tocar a taça).


Assista ao vídeo aqui:




O comercial é bonito, mas não é acessível. Não sei na televisão (vou verificar) mas pelo menos na internet não há legendas (e as automáticas ficam bem ruins, eu testei) e nem a opção de audiodescrição, o que o tornaria possível de ser assistido em sua totalidade pelos cegos, justamente o público tema da campanha.
Um evento não pode apenas PARECER acessível, inclusivo, ele precisa SER acessível para quem precisa desta acessibilidade. ISSO É A COPA DE TODO MUNDO!

Aguardo os comentários e as notícias de acessibilidade da Copa na sua região!

Abraço, Vanessa.

24 de nov. de 2013

8ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul - Porto Alegre



Oi queridos, tudo bem?

Acontecerá em Porto Alegre (RS), entre os dias 29 de novembro e 05 de dezembro, a 8ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul. Em Porto Alegre, será no Santander Cultural. Algumas sessões contarão com audiodescrição e com interpretação em Libras. Neste link você acompanha a programação completa em Porto Alegre. A mostra acontece em vários espaços pelo Brasil e pela América do Sul, por isso acompanhe a programação completa do evento no site que divulgamos na mensagem abaixo.

Fomos informados que a sessão de abertura contará com intérprete de Libras (dia 29/11 às 19h) e sessões com audiodescrição no dia 03 de dezembro, terça feira, às 13h, 15h e 17h!!


8ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na America do Sul
De 26 de novembro a 20 de dezembro de 2013, será realizada a 8ª edição da Mostra Cinema e Direitos Humanos na America do Sul. A mostra acontecerá simultaneamente em todas as 26 capitais e Distrito Federal, além de exibições em até 1000 espaços fora dos grandes centros. Assim, a Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul terá um alcance inédito, ampliando o acesso aos filmes selecionados e levando o cinema para todos.
maiores informações no site: http://culturadigital.br/cinedireitoshumanos/

30 de out. de 2013

Entrevista: Paula Pfeifer, do Crônicas da Surdez


Hoje publicamos a entrevista com Paula Pfeifer, escritora, formada em Ciências Sociais, funcionária pública e blogueira do Sweetest Person e do Crônicas da Surdez. Paula é deficiente auditiva desde a infância (ela tem aquele tipo de deficiência auditiva em que ouve um apito constante, e não o "silêncio"), é oralizada e não utiliza a língua de sinais. Diversas postagens do blog Crônicas da Surdez geraram muita polêmica pela defesa que Paula faz dos direitos dos surdos oralizados, pela paixão que ela tem pelos aparelhos auditivos, e pela falta de acessibilidade que os surdos enfrentam, já que a maioria das campanhas e movimentos de inclusão acreditam que intérpretes de Libras seriam uma forma de incluir a todos os surdos.

Foto de Paula Pfeifer, copiada de seu perfil
no blog Crônicas da Surdez

Enquanto se recupera da cirurgia do Implante Coclear que fez recentemente, ela gentilmente nos concedeu essa entrevista, contando um pouco de sua experiência e do que pensa. Aproveitem!



Vendo Vozes: Olá Paula. Como começou a sua experiência com a deficiência auditiva?
Paula: Bem pequenininha eu já reclamava para a minha mãe: "Tem um apito no meu ouvido". E muitas, muitas otites na infância.


Vendo Vozes:  Começaste, como blogueira, com o Sweetest Person, blog que fala de maquiagem, moda, literatura... O que te levou a escrever um blog como o Crônicas da Surdez? Você não o considera mais forte e polêmico?
Paula:Foi quando decidi 'sair do armário' na questão da surdez. Vi que conseguia atingir milhares de pessoas com o primeiro blog e achei que seria ótimo conseguir atingir outros milhares para falar de um assunto sério.

Vendo Vozes: Em algumas postagens você utiliza o termo deficiência auditiva, e em outras, surdez. Você vê diferença entre esses termos?
Paula: Não vejo nenhuma, é apenas para variar um pouco de termo, rsrsrs. A surdez tem vários graus e é sinônimo de deficiência auditiva. Para mim, são apenas terminações que dizem respeito à mesma coisa. Inclusive brinco dizendo que quem tem DA e não aceita ser chamado de surdo, ainda está na fase da negação.

Vendo Vozes: Quais foram os principais obstáculos que encontraste na trajetória escolar?
Paula: Me adaptei sem nem saber que ouvia mal. Criança, aprendi sozinha a ler lábios, e isso me ajudou muuuuito no colégio. Procura sentar nas fileiras coladas à parede pois assim tinha uma visão panorâmica da sala. Era assim que ia 'me defendendo'.


Vendo Vozes:  Das mensagens que recebeste de leitores do blog ou do livro que se identificaram com tua história, ou que, de alguma maneira, foram ajudadas por ela, há alguma que se destacou?
Paula: São tantas, todos os dias, e eu choro com cada uma delas, me arrepio com cada uma delas. Lembro de um - hoje grande amigo - que me disse que a vida dele se divide em duas partes: antes do Cronicas da Surdez e depois do Cronicas da Surdez. Antes, ele era teimoso e nem queria saber dos aparelhos auditivos, hoje, fez implante coclear e está ouvindo tudo! Isso me emociona demais.

Vendo Vozes:  Você relata receber muitas críticas de leitores contra alguns posicionamentos polêmicos teus, como a falta de um órgão que represente os surdos oralizados, por exemplo. Na sua opinião, por que há essa divisão entre surdos oralizados e surdos que sinalizam? Não seria mais produtivo para ambos os grupos se lutassem unidos?
Paula: Há muito tempo já perdi a 'inocência' no quesito surdez. O lobby feito por instituições voltadas somente à língua de sinais sempre foi muito forte, mas já começou a enfraquecer pois nós estamos cada vez mais voltados e dedicados à missão de mostrar pro mundo a diversidade da surdez e que nem todo surdo usa libras ou pretende viver preso dentro de uma comunidade de iguais. Nossas necessidades são diferentes. Partindo do principio em que 'lideranças surdas' dizem aos quatro ventos que existem surdos e Surdos, como se uma letra maiúscula denotasse superioridade, fica difícil. O que eu mais gostaria que nosso país tivesse é uma educação de qualidade para o aluno surdo (usuário de Libras ou não), para que ele tenha um português escrito tão bom quanto o de crianças de países de primeiro mundo. Isso é imprescindível para o mundo real, no qual é impossível que uma pessoa tenha um intérprete ao seu lado 24hs.

Vendo Vozes: Como foi escrever o livro "Crônicas da Surdez"? Qual a diferença, na tua opinião, entre escrever em um blog e escrever em um livro?
Paula: Escrever o livro foi reviver toda a minha trajetória e perceber o quanto cresci. Acho que a diferença principal é que escrever um livro sempre foi meu sonho, afinal, sou leitora compulsiva de livros desde que me entendo por gente.

Vendo Vozes:  Recentemente te submeteste a uma cirurgia de implante coclear. Como está sendo a tua recuperação e quais são as tuas expectativas?
Paula: A ativação do meu implante será em Porto Alegre dia 11.11, com a equipe do Dr.Luiz Lavinsky. Estou tranquila e sem expectativas pois sei que é um processo lento e longo. Só espero que seja recompensador!

Obrigada pela entrevista, Paula, e uma ótima recuperação para você.
E, leitores, aguardo os seus comentários. Vamos dialogar!

21 de out. de 2013

PNE e a educação de surdos no Brasil

Olá pessoal,

Nos últimos meses de setembro e outubro, várias notícias estão circulando a respeito de manifestações referentes à aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), além de diversas propostas sobre educação de surdos e educação especial que o plano apresenta.

Mas, você sabe o que é PNE?

Em 2010, um documento gera uma intensa discussão sobre a educação especial no país: o projeto de lei que cria o Plano Nacional de Educação (PNE)1, que foi criado e entregue ao governo federal, no mês de dezembro. O projeto estabelece dez diretrizes objetivas e vinte metas para a educação do país, a serem desenvolvidas em dez anos (se fosse aprovado imediatamente, entraria em vigor em 2011 e se estenderia até 2020). 
As metas 4 e 12 do PNE tratam especificamente da educação inclusiva. A meta 4 pretende universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotados. Isso significaria aprofundamento do programa nacional de acessibilidade nas escolas públicas (estratégia 4.4), fomentar a educação inclusiva (estratégia 4.5) e garantir a ampliação do atendimento aos estudantes com deficiência na rede pública regular de ensino (estratégia 4.6), ações que visam a incentivar fortemente que a educação de todos os alunos com necessidades especiais de educação (incluindo os surdos) ocorram nas escolas regulares. A meta 12 trata da ampliação do número de matrículas no ensino superior. Umas das estratégias para se atingir essa meta é a 12.10, que pretende “Assegurar condições de acessibilidade nas instituições de educação superior, na forma da legislação”, ou seja, tornar as instituições de ensino superior acessíveis a toda a população, inclusive às pessoas com necessidades especiais de educação. 
Apesar de ter sido apresentado em 2010, o PNE foi aprovado pela Câmara dos Deputados apenas em outubro de 2012, após ter recebido aproximadamente três mil emendas ao projeto original. Para virar lei, ele ainda precisa passar pelo Senado, que não tem previsão de quando o votará.

E a educação de surdos?

Emenda vai e emenda vem, o texto da meta 4.6, que versa sobre a educação dos surdos, foi alterado, e uma pequena palavra foi tirada. Pode parecer pouco, mas em termos de legislação, uma pequena palavra pode mudar tudo, e foi isso que a FENEIS (Federação Nacional d e Educação e Integração dos Surdos) entendeu. Reiterando o lema da Convenção Internacional da Pessoa com Deficiência: “NADA SOBRE NÓS SEM NÓS”, a FENEIS quer que os surdos participem da composição do texto que versa sobre eles (nada mais justo, não acham?) e defendem que a mudança de texto implica, sim, uma mudança na concepção de educação para surdos.
Em uma nota explicando detalhes dessa proposta, a FENEIS compara o texto antes e depois da alteração. O novo texto ficaria assim:

4.6) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos alunos surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues inclusivas, nos termos do art. 22 do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e surdocegos.

Segundo a FENEIS (e eu concordo), a sutil mudança daria a entender que a educação de surdos poderia ser realizada em qualquer escola regular, desde que a presença de intérprete, o que daria continuidade ao fechamento de diversas escolas de surdos, assim como tem ocorrido com as APAES.

Acompanhe a tramitação do PNE no site do governo:


Quer saber mais?

Acompanhe aqui outras notícias que circularam sobre essa luta:



1Projeto de lei nº 8530 de 2010.

18 de out. de 2013

Entrevista: Bruno Fagundes, produtor e ator da peça "Tribos"


Oi pessoal, tudo bem?

Estou muito feliz por poder apresentar este material inédito para vocês! Uma entrevista exclusiva, do Blog Vendo Vozes, com o ator e produtor Bruno Fagundes.

A peça estreou em setembro, em São Paulo, e ainda não há previsão de apresentações em outros estados, mas vou torcer muito para que eles venham a Porto Alegre em 2014 (e vocês aí, torçam pela cidade de vocês, hehehe). A acessibilidade oferecida no espetáculo (há sessões especiais com intérprete de Libras, legendas e audiodescrição) surpreende, já que o teatro é sempre muito criticado por ser uma das artes menos acessíveis a quem tem alguma deficiência.
Torcemos agora para que esse exemplo se dissemine, e os surdos, deficientes auditivos, cegos, enfim, todos, possam assistir a peça que bem entenderem, de todos os gêneros e com todas as temáticas.

Abaixo um release de "Tribos", que traz um surdo como personagem principal. No final da postagem, a entrevista que o Bruno concedeu ao blog:

Comédia perversa, com texto de Nina Raine e direção de Ulysses Cruz, aborda questões familiares; com Bruno Fagundes, Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, a partir do dia 14 de setembro, no Teatro Tuca
Crédito: Jairo Goldflus
Antonio e Bruno Fagundes encontram-se na produção e no palco do teatro, pela segunda vez. O motivo agora é ainda mais especial, já que formam uma dedicada equipe de produção com os atores Arieta Correa, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon e Maíra Dvorek, em uma premiada comédia perversa, com sacadas inteligentes e uma questão polêmica - que promete criar uma inusitada relação com a platéia - entreter, provocar questionamentos e entregar um bom produto aos amantes das artes.
Nina Raine, autora do texto, usa a figura de um deficiente auditivo para questionar os diversos tipos de limitação do ser humano e, de uma maneira perversamente divertida e politicamente incorreta, revive as típicas questões familiares e reforça as dificuldades de convivência - como em toda tribo.
Tribos aborda a surdez universal e divide o tema em duas categorias: 1) daqueles que não conseguem ‘calar-se’ por tempo suficiente para entender uma realidade diferente de sua própria 2) dos surdos que são fisicamente incapazes de receber estímulos sonoros;. "Somos só mais um na multidão"; "O mundo é surdo", diz Billy. Existe surdez maior que o preconceito; que o orgulho; que a ignorância; o egoísmo; a falta de amor?
Tribos estreia em São Paulo, dia 14 de setembro, no Teatro TUCA.
O TEXTO
Sucesso no Royal Court Theater, em Londres, e vencedor do New York Drama Critics, quando em cartaz nos Estados Unidos, o texto tem tradução de Rachel Ripani e direção de Ulysses Cruz. Billy (Bruno Fagundes) nasceu surdo em uma família de ouvintes, liderada pelo pai Christopher (Antonio Fagundes) e pela mãe Beth (Eliete Cigaarini), e completada pelos irmãos Daniel (Guilherme Magon) e Ruth (Maíra Dvorek). Ele foi criado dentro de um casulo ferozmente idiossincrático e politicamente incorreto. Adaptou-se brilhantemente às maneiras não convencionais de sua família, mas eles nunca se deram ao trabalho de retribuir o favor. Finalmente, quando ele conhece Sylvia (Arieta Correa), uma jovem mulher prestes a ficar surda, Billy passa a entender realmente o que significa pertencer a algum lugar.


Na imagem acima, os atores da peça, na ordem da esquerda para direita: Bruno Fagundes, Maíra Dvorek, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Antonio Fagundes e Arieta Correa. Todos estão com roupas e sapatos pretos. Os atores estão tapando, com as mãos, os ouvidos dos que estão ao seu lado. Apenas Bruno e Arieta, que estão nas extremidades, não estão com mãos tapando seus ouvidos.

Agora, confiram a entrevista:

Vendo Vozes - Como ocorreu o seu envolvimento com a comunidade surda e a preparação para este papel? 

Bruno: Meu envolvimento com a comunidade se deu de maneira muito natural. Comecei com profissionais da área da surdez, depois com fonoaudiólogas e aos poucos fui ampliando para representantes da comunidade surda. Tivemos muito pouco tempo de preparação, mas foi um mergulho intenso na comunidade, na forma de vida do deficiente auditivo. Meus maiores desafios foram aprender LIBRAS e a busca da voz característica do deficiente auditivo.


Vendo Vozes - Você já possuía algum contato com a comunidade surda anteriormente? Já conhecia a língua de sinais?

Bruno: Não, nenhum. Minha cabeça se abriu completamente para esse universo a partir dessa pesquisa.

Vendo Vozes - Na sua opinião, qual é o maior desafio do ator ao interpretar uma pessoa surda?
Bruno: A fala é realmente um dos maiores desafios, não só pela questão técnica da articulação, potência, volumes, região da fala, mas também pelo fato de que o personagem precisa ser entendido pelo público. E meu trabalho de ator, levando em conta as emoções, as nuances do personagem, a projeção para platéia, nada disso poderia ser mascarado pela dificuldade da fala. Então foi um processo intenso de treino. Além disso, nós ouvintes nunca saberemos o que é ser surdo, como é a vida interna desse personagem, foi preciso muita criatividade também, rsrs.


Vendo Vozes - Como vocês perceberam a necessidade de acessibilidade da peça aos surdos e deficientes auditivos, e como essa acessibilidade está sendo oferecida?
Bruno: Seria um contrassenso fazer uma peça na qual o personagem principal é deficiente auditivo e não incluí-los. Foi uma iniciativa minha como produtor, a partir do meu contato com a comunidade, mas rapidamente a equipe toda se entusiasmou. Nos dias 26 de outubro (último sábado do mês), 30 de novembro (último sábado do mês) e dia 14 de dezembro, estamos realizando as sessões com acessibilidade. Para isso, temos alguns parceiros envolvidos. A primeira grande parceira e amiga é a intérprete de LIBRAS Mirian Caxilé. Ela me ensinou muito sobre cultura e identidade surda e é INTÉRPRETE DE LIBRAS oficial de Tribos. E a empresa Steno do Brasil que nos forneceu tablets com LEGENDA (para surdos oralizados) e a maravilhosa novidade AUDIODESCRIÇÃO PARA CEGOS para os dias de acessibilidade. 

Vendo Vozes - Como a comunidade surda tem recebido a peça?

Bruno: Maravilhosamente bem!!! Dia 28 de setembro foi nossa primeira sessão acessível e foi um dos dias mais emocionantes da minha vida. Tinham na platéia aproximadamente 350 surdos. E eles têm voltado, mesmo nos dias sem acessibilidade, levando seus familiares ouvintes e amigos. Tem sido uma experiência inesquecível. TODOS os meus próximos projetos de teatro, ao longo da minha vida, terão sessões acessíveis.


Vendo Vozes - Vocês pretendem viajar com a peça para demais estados? (tomara que venham ao Rio Grande do Sul!!!)

Bruno: Por enquanto, não temos nenhuma viagem agendada. Infelizmente, viajar exige um esforço monumental, envolve custos altíssimos com transporte, estadia, alimentação, aluguel de equipamento e toda uma logística de adaptação. Não é nada fácil. Mas quem sabe na metade do ano que vem?

Muito obrigada ao Bruno, pela entrevista, e à Lívia Bollos, assessora de imprensa, pela atenção.

Maiores informações sobre o espetáculo:
Tribos
Autor: Nina Raine
Tradutor: Rachel Ripani
Diretor: Ulysses Cruz
Elenco: Bruno Fagundes, Arieta Correia, Eliete Cigaarini, Guilherme Magon, Maíra Dvorek e Antonio Fagundes
Figurinista: Alexandre Herchcovitch
Cenógrafo: Lu Bueno
Iluminador: Domingos Quintiliano
Trilha: André Abujamra
Assistente de cenografia: Livia Burani e Moises Moshe Motta / Assistente de produção: Danny Cattan
Diretor de produção: Germano Soares Baía
Realização: Antonio Fagundes e Bruno Fagundes
Local: Teatro TUCA
Capacidade: 672 pessoas
Endereço: Monte Alegre, 1024 - Perdizes – São Paulo
Horários: sexta 21h30 / sábado 21h30 / domingo 18h
Fone: (11) 3670-8455
Estacionamento: R$ 12 (Rua Monte Alegre, 835)
Ingressos: sexta R$ 50 / sábado R$ 60 / domingo R$ 50
Classificação etária: 14 anos
Pontos de venda: bilheteria do Tuca (terça a domingo 14h às 19h / domingo 14h às 18h) ou www.ingressorapido.com.br
Mais informações: http://www.tribos2013.com/ e www.teatrotuca.com.br



16 de out. de 2013

Ensino de língua inglesa para surdos

Olá queridos!

Semana passada conheci no nordeste várias pessoas muito queridas. Uma delas era ainda mais especial: Toni! Depois de começarmos a conversar sobre nossas pesquisas, nosso trabalho, descobri que ele fez mestrado em Ciências da Linguagem com uma dissertação sobre aprendizagem de língua inglesa para surdos. Claro que eu o convidei a escrever um pouco sobre esta pesquisa e pedi para publicá-la aqui no blog, o que ele prontamente atendeu.

Abaixo, reproduzo o depoimento de Toni (na verdade Antonio Henrique Coutelo de Moraes) sobre este trabalho: 

Foto de Toni.
Esse trabalho teve motivações intrínsecas e extrínsecas. Primeiramente, fui motivado pela convivência com surdos, que demonstraram interesse em aprender a língua inglesa e pelo carinho que tenho por minha prima que é surda e com quem convivo muito. Também, em um dado momento de minha experiência em sala de aula, eu me deparei com um aluno surdo e uma série de questionamentos surgiram em minha mente. De início, foi muito difícil receber aceitação das pessoas na Academia no que diz respeito à pesquisa. Contudo, após muita conversa e exposição de ideias, as ideias foram aceitas. Embora a aquisição da língua estrangeira para surdos pareça uma questão passível de ser adiada por haver outras questões relacionadas à aquisição da segunda língua que ainda não tenham sido resolvidas, eu e minha orientadora acreditamos na necessidade de avançar em novas discussões. Para tanto, realizamos a pesquisa sem deixar de estarmos atentos para o contexto de aquisição do conhecimento do surdo no Ensino Médio. O objetivo foi de investigar a possibilidade de fluência no inglês por seis sujeitos surdos, sendo necessário, então, observar o seu processo de aquisição e aprendizagem da LE em um contexto educacional inclusivista multi(bi)linguista. Inicialmente contávamos com dez sujeitos, dos quais alguns desistiram por dificuldades com a linguagem escrita de uma forma geral. Esperamos contribuir para que essa linha de estudos seja ampliada pois são poucas as iniciativas em nosso país sobre o tema.

A dissertação foi defendida em Recife, em 2012, e orientada pela Dra. Wanilda Maria Alves Cavalcanti. Para ter acesso a ela clique aqui.
Para contatar o Toni, o e-mail dele é: coutelodemoraes@gmail.com

Obrigada, querido Toni, por toda a ajuda e por disponibilizar seu precioso trabalho conosco. 
Abração,
Vanessa.

26 de set. de 2013

Dia Nacional do Surdo

Olá queridos

Hoje é dia Mundial do Surdo, dia 26 de setembro.
Mas qual o significado desta data?
A Comunidade Surda Brasileira comemora em 26 de setembro, o Dia Nacional do Surdo, data em que são relembradas as lutas históricas por melhores condições de vida, trabalho, educação, saúde, dignidade e cidadania. A Federação Mundial dos Surdos já celebra o Dia do Surdo internacionalmente a cada 30 de setembro. No Brasil, o dia 26 de setembro é celebrado devido ao fato desta data lembrar a inauguração da primeira escola para Surdos no país em 1857, como nome de Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro, atual INES‐InstitutoNacional de Educação de Surdos. Toda esta história começou em26 de setembro de 1857, durante o Império de D. Pedro II, quando o professor francês Hernest Huet fundou, com o apoio do imperador o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Huet era surdo. Na época, o Instituto era um asilo, onde só eram aceitos surdos do sexo masculino. Eles vinham de todos os pontos do país e muitos eram abandonados pelas famílias.

Agradeço a oportunidade de conhecer essa comunidade e por tudo que tenho aprendido desde que me aventurei por ela, há aproximadamente 10 anos. Desenvolver pesquisas na área da educação de surdos é um desafio constante, mas eu não consigo imaginar minha vida acadêmica de outra maneira. Conhecer os surdos, sua língua e sua cultura impactaram fortemente minha vida. Além de ter aprendido tanto sobre cultura e a língua dos sinais, aprendi muito sobre a minha própria língua e sobre mim.


"A língua de sinais nas mãos de seus mestres, é uma língua extraordinariamente bela e expressiva, para a qual, na comunicação uns com uns outros e com um modo de atingir com facilidade e rapidez a mente dos surdos, nem a natureza e nem a arte  proporcionaram um substituto satisfatório. Para aqueles que não a entendem, é impossível perceber suas possibilidades para os surdos, sua poderosa influência sobre a moral e a felicidade social dos que são privados da audição, e seu admirável poder de levar o pensamento a intelectos que, de outra forma, ficariam em perpétua escuridão. Enquanto houver duas pessoas surdas na face da Terra e elas se encontrarem, então serão usados sinais."
J. Schuyler Long (The sign language, 1910) 
Prefácio de Vendo Vozes, de Oliver Sacks.


(Estátua de um menino estendendo a mão - Parque Champs de Mars - Paris, França.  Foto de Bruno Pires)

A singela homenagem do blog Vendo Vozes a todos os leitores!
Vanessa.

22 de set. de 2013

Campanha pela inclusão da LP/S nos cursos de formação de professores

Olá pessoal

Estou sem tempo para novas postagens, mas gostaria de compartilhar com vocês esta imagem abaixo, que podem utilizar em seus blogs, sites, redes sociais, murais de escola e cursos, grupos de discussão, com o objetivo de colocarmos em prática um decreto que existe há quase 8 anos, porém ainda não é posto em prática em muitos cursos superiores: a inclusão da Língua Portuguesa para Surdos nos currículos.
Como podemos lutar pelo acesso dos surdos à uma educação bilíngue de qualidade se nossos professores não possuem informações e formação adequada para isso?

Você que é professor, estudou ou estuda Letras, Pedagogia ou Magistério, teve alguma formação sobre Língua Portuguesa para Surdos na sua instituição de ensino?
Nos conte a sua experiência e nos ajude a divulgar esta ideia.





Texto da imagem:
Art.13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior1, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.
 Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. (BRASIL, 2005 - artigo 13 do Decreto 5.626 de 2005)


Se está no Facebook, compartilhe a partir do link do nosso grupo (aqui).
Abraços,

Vanessa!

3 de set. de 2013

Visões de Mundo


Olá pessoal, tudo bem?
Perdoem a demora por novas postagens, mas estou bastante envolvida com a escrita da tese e o meu trabalho.

Bem, o texto que publico hoje é da autoria de Jônatha Bittencourt, estudante de Jornalismo (UFRGS), âncora da Bandnews FM Porto Alegre e repórter da Rádio Bandeirantes RS. O texto foi primeiramente publicado no blog Três Gotinhas, da minha amiga Mariana, que foi entrevistada para a reportagem realizada. Gentilmente os dois me cederam o texto, para publicá-lo também aqui no blog.


Visões de mundo
Jônatha Bittencourt
Conduzidos por uma bengala, dão passos para além da escuridão. Os barulhos do ambiente são como faca de dois gumes: ora ajudam, ora atrapalham quem deles é dependente.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde apontam que a cada 5 segundos uma pessoa se torna cega no mundo. Os números também indicam a existência de 40 a 45 milhões de casos; 90% deles em países emergentes ou subdesenvolvidos; e 80% poderiam ser evitados. Segundo o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, mais de 35 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência visual. Dos números apontados, aproximadamente meio milhão de pessoas são totalmente incapazes de enxergar. Em Porto Alegre, os números indicam que pelo menos seis mil pessoas têm cegueira total.
Apesar do índice considerável de deficientes visuais ao redor do mundo, a impressão dominante é de que não existe uma consensual preocupação com o bem-estar dos cidadãos que vivem em tais condições. Quando surge em meio à política, a acessibilidade parece apenas uma “pauta positiva” diante das denúncias cada vez mais recorrentes. E contando com esse panorama, onde alguns cegos ainda ousam sair às ruas, outros resistem entre quatro paredes.


Na imagem acima, o autor do texto, Jônatha Bittencourt, em frente à Casa Lar do Cego Idoso
Na foto, um jovem magro, de camisa xadrez preta, calça jeans e uma pasta cuja alça está atravessada em diagonal em seu peito, segura um objeto de papel em sua mão direita. Ele está no centro da foto, em primeiro plano. Atrás, há um prédio cor de rosa e branco, com os letreiros em cor preta "Casa lar do cego idoso". Na entrada do prédio há uma calçada de concreto, e à direita do jovem há um caminho de piso tátil até a porta de entrada do prédio.


Rua Braille, número 480. Esse é o endereço da Casa Lar do Cego Idoso, instalada no bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre. No local, cerca de 40 pessoas com mais de 60 anos de idade são acolhidas. Dentre as pessoas que se dedicam a levar assistência e conforto aos moradores, estão Joanete e Niderauer.
História Viva
Joanete Pretto Zanandrea, 58 anos, tesoureira. Niderauer Pacheco de Quadros, 87 anos, tesoureiro. Na sala do departamento, no térreo da casa de dois andares, eles falam do trabalho com muito entusiasmo. Quando um para, o outro continua dando cada vez mais fôlego à conversa, que compete com o barulho das obras que estão sendo feitas no local – recém haviam chegado recursos do governo municipal.
A história do estabelecimento teve início há 40 anos, antes mesmo da sua fundação. Em maio de 1973, um grupo de cegos descontentes com a política de atendimento aos deficientes visuais no Rio Grande do Sul e com a falta de atividades esportivas para eles resolveram fundar a Sociedade Esportiva Louis Braille (SELB). “Nós tivemos diversos troféus”, destaca Niderauer. “Levamos vários títulos de futebol de salão e atletismo.”
Dez anos depois, a SELB passou a se chamar SOLB, de Sociedade Louis Braille. Perdeu a letra E, de Esportiva, que justamente motivou sua criação. Mal sabiam o que lhes esperava. Uma longa jornada na área social se estenderia pela frente.
Com a formação de um novo estatuto, em 1998, o nome da entidade mudaria para Associação de Cegos Louis Braille (ACELB). Cientes de que não seria fácil, mas que era necessário trabalhar mais pesado por uma rede de serviços que atendesse pessoas cegas idosas em situação de vulnerabilidade social, resolveram criar um setor responsável por essas demandas. Em 2000, foi inaugurada a Casa Lar do Cego Idoso, contando, inicialmente, com 12 moradores.
Joanete relata que chegou até a instituição por meio do marido. Segundo ela, por ele ser deficiente visual, os círculos sociais do casal passaram a ser, principalmente, pessoas cegas. Considerando o quadro em que se encontrava a militância pelos direitos das pessoas com deficiência, Joanete percebeu a necessidade de se engajar no projeto. Hoje, só lamenta pela falta de circular mais entre os moradores da casa, como fazia antigamente. “Passo mais tempo aqui, na sala da tesouraria, só lidando com números. Sinto falta lá de cima”, diz Joanete.
Enquanto ela conclui seu raciocínio, dá para notar que Niderauer já aguarda a vez de falar. Ele foi um dos fundadores da associação. Tem muita história para contar.
Sou aposentado. Fiz parte da diretoria de uma cooperativa de crédito. Naquela época, eu administrava a parte de empréstimos e cheguei a colaborar com cegos carentes. Além disso, sou membro, há muito tempo, da Irmandade São Miguel e Almas. Essa organização auxiliou desde o início a Associação de Cegos Louis Braille.”
Os dois destacam que, nesses 13 anos de funcionamento do asilo, passaram por muitas experiências. Uma delas insiste em se repetir. A indiferença parece resistir ao tempo.
Algumas pessoas têm familiares aqui. Às vezes, ligamos para avisar que estão no hospital porque passaram mal e que precisam ser visitados, mas recebemos como resposta: “Eu não vou atrás dele, já está na hora de morrer mesmo”, desabafa Joanete. “Infelizmente, alguns chegam ao ponto de dizer isso. São pessoas que abandonaram completamente seus parentes.”
Diante de situações como essa, o desânimo passa a ser um dos maiores inimigos dos que moram na casa. O sentimento, inclusive, toma uma certa vantagem por não existir um serviço de acompanhamento psicológico no local. “Eu acredito que se tivéssemos uma psicóloga aqui, ela teria muito trabalho”, diz Joanete, “muitas vezes não falam, mas no fundo estão precisando”. As dificuldades para a contratação de uma psicóloga decorrem das verbas governamentais, que “estão mais direcionadas às benfeitorias do lugar”, como destaca Niderauer.
Em meio à conversa com os dois tesoureiros, chega à porta um homem de avançada idade vestido ao estilo camponês, segurando nas mãos uma sacola com veneno para formigas.
Um Jardineiro Revolucionário


Na imagem acima, Sr. Adão Alcides Zanandrea
Um senhor, com chapéu preto e roupa cinza está posando para a foto, de frente para a câmera, no canto esquerdo da imagem. Ele segura uma pequena sacola branca. Atrás dele, uma grande estante de madeira escura, antiga, ocupa todo o fundo da foto. Na estante há muitos livros e porta-retratos.

É o marido de Joanete, Adão Alcides Zanandrea, 75 anos, ex-presidente da ACELB e, atualmente, conselheiro estadual da Saúde e dos Direitos das Pessoas Deficientes. Ele só enxerga com o olho direito – e apenas 9%.
Era o presidente e o jardineiro da casa”, interrompe Niderauer fazendo uma piada. Os três caem na gargalhada. Adão aproveita a brincadeira do amigo e já faz a seguinte recomendação, todo orgulhoso: “Pois vá ver minhas bananeiras no pátio! Certo dia meu sogro me disse: “Onde não dá geada, o colono planta três pés de bananeira e, após três anos, vai colher bananas que durarão um bom tempo para uma família de cinco pessoas”. Há dois anos, no mês de março, colhemos 70 cachos!” A esposa e seu colega tesoureiro não contestaram. Ele parece ter aprendido, realmente, a lição do sogro.
Mas ele é mais que um jardineiro.
Mesmo enfrentando dificuldades por causa da visão, resolveu cursar Direito. Registrava as aulas em um gravador de som, depois escutava as fitas. Caso não tivesse como gravar em um determinado dia, pedia emprestado o caderno dos colegas. Em casa, Joanete lia e assim ele estudava.
Eu gravava tudo em áudio e até traduzia para o Braille. Mas nunca comprei livros,” comenta Adão. Na época, adquirir obras em Braille custava muito caro – mais do que atualmente.
Depois da colação de grau, deu início à carreira de advogado. Com o passar dos anos, começou a dar aulas e a trabalhar no Ministério do Trabalho, atendendo na área previdenciária. Ainda hoje, Adão Zanandrea recebe homenagens pela sua militância a favor dos deficientes visuais. Pelo amplo conhecimento jurídico, foi convidado diversas vezes a Brasília, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras para colaborar no planejamento de uma legislação que contemplasse as questões de acessibilidade e direitos humanos em torno da deficiência visual. “Eu ajudei a escrever essas leis. Tenho até hoje os documentos de agradecimento lá do Rio de Janeiro”, diz orgulhosamente.
Seu antigo local de trabalho em Porto Alegre, a agência do Sistema Nacional de Emprego (SINE), também foi palco de revolução. Lá, durante 18 anos, atuou como o único deficiente visual, passando de estagiário a professor. “Até que um dia nós, mais de duzentos deficientes na cidade, entramos no Palácio Piratini e exigimos do governador os nossos direitos.”
Em 1981, no Ano Internacional das Pessoas Deficientes, o então ministro da Previdência do país, Jair Soares, anunciou sua candidatura ao governo do estado do Rio Grande do Sul. Percebendo que o governador gaúcho do momento, José Augusto Amaral de Souza, encontrava-se em risco e disposto a abrir concessões para se manter no cargo, os manifestantes aproveitaram a oportunidade para protestar. Naquele dia, foram prometidas centenas de vagas para deficientes em todo o estado.
Eu estava a dois palmos do governador. Lembro-me de ouvir dizendo: ‘Vamos começar a contratar. Estou determinando!’ Chegaram a fazer reclamações contra alguns secretários, mas o governador Amaral respondeu: ‘Secretários são pagos para me ajudar administrar o Estado. Contratem! Estou determinando!’”
Antes de sair para o pátio com sua sacola, despediu-se dizendo: “Na tua reportagem, não se esquece de dizer para as pessoas virem conhecer esse lugar e tomarem conhecimento do que uma obra assistencial de promoção humana pode fazer”.
Ao sair da tesouraria, meu próximo passo foi subir ao primeiro andar, acompanhado por Joanete. No local, além de dormitórios e de um “fumódromo”, existe uma sala com assentos onde parte dos idosos gosta de passar o dia.
Solidão e Resistência


Dona Catarina segurando a mão de Jônatha
Na foto acima, uma senhora idosa, com cabelos grisalhos e um gorro de lã cinza segura, com as duas mãos, a mão de uma terceira pessoa. Reconhecemos que é de Jônatha, o autor do texto, porque é possível visualizar a manga xadrez de sua camisa. Os olhos da idosa estão fechados, e ela está com a cabeça levemente inclinada para a esquerda.

Sentada em uma das poltronas, Catarina Gonçalves de Oliveira, de 76 anos, se concentra em seu crochê colorido. Apesar da cegueira total, faz a peça de roupa com as próprias mãos. Peço licença e um pouco do seu tempo. Ela retribui com alegria à ideia de ser entrevistada. Dona Catarina aproveita para pegar uma das minhas mãos e, esquentando-a, “segurar” a companhia por mais tempo.
Ela explica que o crochê faz parte da sua vida há anos e é uma das formas de vencer a depressão. “Eu já fazia isso quando enxergava um pouco. E agora não posso ficar mais parada, meu anjo. Sinto um sufoco e um mal estar quando não faço nada. A gente fica tão desnorteada quando perde a visão…”
Tudo começou quando eu era pequenininha, com quatro anos”, explica, “estava com meu irmão, que era muito arteiro na época. Um militar que estava passeando com seu cavalo gordo deixou cair um cartucho de dinamite perto de nós. Curioso, meu irmão foi pegar a bomba no chão. Ela explodiu. O cavalo levou um susto tão grande que levaram umas duas semanas para achá-lo”.
O acidente fez com que dona Catarina, ainda menina, perdesse 95% da visão.
Depois de um tempo, fui diagnosticada com catarata. Precisei ir à Santa Casa. Daí chegou o doutor mais experiente e me disse: ‘Catarina, tem que operar com urgência senão vai perder as vistas!’ O problema é que fizeram com anestesia geral, quando era para ser local. Antes eu pelo menos enxergava a luz, os degraus das escadas…”
Após essas palavras, dona Catarina voltou a contar sua história do início mais umas três vezes. Talvez pela idade. Resolvi não questioná-la mais sobre as causas da cegueira.
Tenho dois filhos, faz tempo que não me visitam. O Daniel não vem há mais de um ano.” Ela parece ter criado uma espécie de resistência a esse sofrimento. Apesar de fazer questão de dizer que não recebe visitas, destaca: “Mas nem conto mais com isso, não dou bola. Eles têm a vida deles. Precisamos pensar em nós mesmos, não nos parentes, e esperar a morte chegar, né?” Ela ri.
De repente cegos
Na mesma sala onde dona Catarina se dedica ao seu crochê, Osvaldo Ferraz escuta televisão. “Não posso ler ou assistir à TV, então só ouço notícias e futebol”, explica. O homem de 80 anos de idade perdeu completamente a visão há 10 anos.
Se eu mais ou menos imaginasse”, suspira, “não teria deixado acontecer. Deitei enxergando e acordei cego”. Tudo por causa de um glaucoma, doença que se caracteriza pelo aumento gradual da pressão dentro dos olhos. Com isso, o nervo ótico, responsável por transportar as sensações visuais para o cérebro, tende a sofrer uma lesão. No caso de Osvaldo, total.
Por mais que receba, em média, duas visitas por mês, Osvaldo Ferraz sente no peito a angústia de viver no mundo da escuridão. “Isso deprime a gente”, afirma. As amizades dentro de casa servem de estímulo para o dia-a-dia. “Conhece o Niderauer? Andando com ele, tá com tudo…”
Depois de conhecer Osvaldo, fui conduzido por Joanete a um dos quartos do asilo. Em uma cama estava um homem que, em plena juventude, foi desafiado por uma raríssima doença chamada Paget. Os especialistas afirmam que apenas 5% a 30% dos casos são sintomáticos. Os demais pacientes só descobrem a doença durante exames mais específicos ou, como no caso de Alenir Moraes da Silva, de 61 anos, através das consequências.
Por volta dos 20 anos de idade, a vida de Alenir mudou drasticamente.
Eu era bastante ativo na época, trabalhava no campo”, afirmou. “A doença de Paget apareceu de repente e eu perdi a visão. Foi bastante difícil. Ninguém sabia de nada, como lidar ou não com isso.”
Ainda assim, resolveu seguir em frente. “Procurei minha independência”, declara. Além de trabalhar em empresas da capital, participou da direção de algumas entidades que apoiam deficientes visuais. Em Porto Alegre, viveu a dura realidade de uma cidade que, como a maioria ao redor do mundo, ainda está distante do ideal quando se trata de acessibilidade.
A cidade não está preparada. Na verdade, uma sociedade preparada para conviver e até entender a dinâmica de um deficiente visual não existe no mundo inteiro, viu? As barreiras arquitetônicas são imensas.”
Uma declaração que, por vezes, parece ser ignorada. Fazendo o uso contextualizado do conhecido ditado popular, a impressão que fica é que onde há cego, quem enxerga é rei. Mais do que isso, quem enxerga dita as regras de como ver o mundo.
Embora exista a imposição de limites que deveriam ser repensados, Alenir Moraes da Silva declara viver “uma vida normal. Ela já é feita de altos e baixos, de coisas boas e ruins. Ser cego é apenas um detalhe. Mesmo assim, a pessoa pode ser capaz de se adaptar e de se esquecer, muitas vezes, da própria condição de cega”, conclui.
Alenir foi o último morador que conheci na Casa Lar do Cego Idoso – que prometi a mim mesmo visitar mais vezes. Antes de ir embora, ainda passei pelo jardim de Adão.
Saí decidido a conhecer mais pessoas e lições de vida.

Construindo Rampas
Esta jovem de 27 anos tem deficiência visual parcial (baixa visão) desde o nascimento. Enxerga apenas 10% e como se estivesse usando um binóculo – não tem a percepção lateral, periférica. Para começar a ver algo, precisa estar a, no máximo, dois metros de distância, quanto mais iluminação melhor. No computador, utiliza fontes que variam de 22 a 24 pontos. Além disso, é jornalista formada.
Você deve estar imaginando: “Essa pessoa deve ser uma grande profissional de rádio, afinal de contas, deficientes visuais não desenvolvem com facilidade os outros sentidos? Trabalhar com a audição deve ser o seu forte!” Deixe-se surpreender: estamos nos referindo a uma apresentadora de televisão. Seu nome é Mariana Baierle, jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Nunca imaginei que seria telejornalista, era uma das áreas pelas quais eu menos me interessava na época da universidade. Até que um dia prestei um concurso temporário para a TVE-RS e, inclusive, passei no acesso universal. Fiquei toda orgulhosa por ter me classificado. Quando entrei, houve certa resistência, não sabiam o que fazer comigo.”
Hoje, Mariana é repórter e apresentadora do quadro Acessibilidade dentro do programa Cidadania. Apesar das dificuldades enfrentadas inicialmente, com o tempo passou a usar algumas situações a seu favor. Em filmagens na rua, por exemplo, consegue se concentrar ao se dirigir à câmera. Já que não enxerga perifericamente, não se preocupa se alguém a está assistindo.
Mas nem tudo é motivo de tranquilidade. O luto e a contestação são “pautas” permanentes na vida Mariana. Apesar de viver em um país onde os direitos humanos são, supostamente, prioridade, ela acredita que a questão ainda é tratada com superficialidade.
Gosto de fazer uso de uma frase da publicitária Juliana Carvalho, cadeirante: ‘É preciso construir rampas na cabeça das pessoas’. E é bem isso, mudar um pensamento, um comportamento. Não é só a rampa que vai dar acesso, mas as pessoas, a forma de atender e lidar com naturalidade. Alguns ainda têm aquela ideia: ‘Nossa! Aquele é deficiente, está vendo? Está vindo ao teatro, ao cinema, como é que pode? Está saindo de casa!’ Ainda existe, infelizmente, essa resistência. Por isso existe a necessidade de ‘construir rampas’ num sentido bem mais amplo, de transformação cultural.”
Dentre vários preconceitos que deveriam ser colocados em xeque nos nossos dias, um ainda intriga muita gente: “O que esse tipo de pessoa vai fazer em Paris se não pode ver a Torre Eiffel? Qual a importância de ir a Roma sem enxergar o Coliseu?” Diante desse tipo de pensamento, Mariana contra-ataca: “Não é bem assim! O que vale é a sensação de interagir com as pessoas, caminhar pela cidade, tirar fotos…” Tirar fotos? “Sim, vão tirar, querer uma recordação. Depois os outros descrevem as imagens coletadas! Isso acontece por meio da audiodescrição, um método de trazer acessibilidade nessas situações.”
Confesso que fiquei um tanto surpreso com essa ferramenta de “visualização”. Vale a pena destacar que a jornalista Mariana Baierle tem um blog chamado Três Gotinhas (www.tresgotinhas.com.br). Na sua página pessoal, ela explica o porquê do nome: “Acho que três gotinhas é uma boa conta, considerando que às vezes posso colocar a mais ou a menos (e não ficarei sabendo disso). Então a tentativa de sempre colocar três gotinhas me parece uma boa média.” Ali, Mariana registra as mais diversas experiências vivenciadas, que vão desde a simples imaginações e conversas a grandes viagens.
Falando em viagens…
Nem só olhos visualizam
Estou a menos de uma semana na Alemanha e já são tantas as coisas para contar que fica difícil entrar em detalhes, mas posso dizer que foram, por enquanto, os dias mais difíceis da minha vida.” (16/09/2012)
O autor dessas palavras se chama Lucas Radaelli, um jovem de 21 anos de idade, estudante de Ciências da Computação na Universidade Federal do Paraná. Assim como Mariana, ele tem um blog na internet (www.lucasradaelli.com) e é deficiente visual. No entanto, é cego. Para chegar à Alemanha, Lucas precisou superar algumas barreiras durante os anos de estudos. Ele relata que a partir da terceira série, passou a estudar mais de forma digital. Os livros eram escaneados pelos pais e “lidos” através de softwares em seu computador. O Braille servia como ferramenta apoio.
Já na universidade, participou de um processo seletivo por uma única bolsa destinada ao setor de Exatas, que englobava Ciências da Computação, Tecnologia da Informação, Física, Matemática, as engenharias etc. Passou por uma série de provas, como de idioma do país de destino, rendimento acadêmico, histórico escolar, iniciação científica e atividades extracurriculares. No final das contas, foi selecionado. Embarcou para a Alemanha. “O início foi mais difícil. Como eu não tinha amigos ainda ficava sem ajuda para algumas coisas. Precisei ultrapassar os meus limites para resolver esses problemas”, comenta. Além de visitar o país germânico com fins acadêmicos, Lucas revela sua paixão por viagens e destaca algumas das suas memórias. “Sempre pesquiso bastante para onde quero ir. Já fiz viagens frustrantes, onde só havia apelo visual. Mas já viajei para lugares dos quais gostei muito, como Dublin, na Irlanda. Havia muitos pubs com música tradicional. Lógico que a visão deve ser bastante importante, mas ainda existe a questão da culinária, dá para sentir o ambiente. Quando fui ao Museu Britânico, em Londres, passei por uma experiência muito legal porque era permitido tocar em várias estátuas egípcias. Nossa, visualizei várias estátuas.”
Já que conversamos sobre “aparências”, resolvi questioná-lo sobre conceitos de estética, beleza. Lucas destacou que faz uso de outros padrões. “Como aconteceu quando um amigo me mostrou dois celulares e perguntou qual deles eu havia gostado mais. Respondi indicando um. Ele quis saber o porquê. Falei que preferi pela traseira de metal porque me passava uma sensação melhor por ser gelado…”
Eu não tenho noção do que é uma cor. Então discussão sobre cores de pele é algo que não entra na minha cabeça”, ressalta. “Certa vez aconteceu uma situação engraçada envolvendo um amigo – eu acho que é negro, não tenho certeza. Ele estava bem ranzinza na parte da manhã e eu disse que ele estava parecendo muito alemão naquele dia. Todos meus amigos deram risada. Era bem no começo do nosso convívio. Por um tempo o chamamos de alemão.”
Assim encerrei a conversa, ciente de que para Lucas, preto e branco eram a mesma coisa.

11 de jul. de 2013

Resultado: Promoção de junho e Nova promoção de julho de 2013

Olá pessoal

A sorteada da promoção de junho foi Kátia Regina de Oliveira, do MS! Parabéns!

E, em julho de 2013, estamos realizando uma nova promoção na fanpage do blog no Facebook, em https://www.facebook.com/vendovozes. Para participar, acesse a promoção (clique aqui) e participe. Dá uma olhada na fofura que vamos sortear:


O prêmio (um kit de chaveiro, íma e clipe em biscuit) é um presente para os leitores do blog da Adriana, que faz esses e outros modelos diversos em biscuit e aceita encomendas. Para contatá-la, escreva para adriana_herculano@hotmail.com e peça seu orçamento. Gostei muito da ideia, que pode ser utilizada como presente ou lembrancinha em eventos, festas de aniversário, formatura, por exemplo, além da possibilidade de outros sinais em Libras. Super criativo!

27 de jun. de 2013

Documentário "Olhares"

Olá queridos, tudo bem?

No ano passado, postei um relato da minha experiência em curso que fiz sobre Educação, Cultura e Acessibilidade, na UFRGS (para ler, clique aqui). Pois bem, na época do curso, assisti ao documentário "Olhares", uma produção independente dos ministrantes do curso, Mestres Felipe Mianes e Mariana Baierle. Agora, o documentário está disponível na internet, gratuitamente, com os recursos de audiodescrição e legendas, e recomendo muito que assistam e divulguem esse filme. Ah, e se possível, chamem os dois para alguma roda de conversa, palestra ou evento, pois eles são inteligentíssimos e falam de inclusão de uma maneira diferente, irreverente e tocante. Recomendo!

Abaixo, reproduzo o texto da notícia que foi publicado no Blog Três Gotinhas, de propriedade da Mariana.


O documentário “Olhares” (2012) agora está disponível online para acesso em qualquer parte do mundo. No filme, pessoas cegas e com baixa visão contam suas experiências no acesso ao teatro, exposições, cinema, literatura, música e entretenimento.
A obra conta com audiodescrição – recurso de acessibilidade que permite acesso a pessoas com deficiência visual – e legendas – que se destinam ao público com deficiência auditiva. Trata-se de uma produção independente, produzida em caráter acadêmico e sem qualquer tipo de patrocínio. A direção, roteiro e produção são de Felipe Mianes (historiador e doutorando em Educação pela UFRGS) e Mariana Baierle (jornalista e mestre em Letras pela UFRGS) – ambos com deficiência visual.
Estima-se que “Olhares” já tenha sido assistido por mais de mil pessoas em eventos diversos, tais como: II Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais na UFRGS, 6ª Primavera dos Museus (Salvador/BA), Mostra de Curtas-Metragem sobre a Temática de Deficiência da Fundação Liberato Salzano (Novo Hamburgo/RS), Feira do Livro de Novo Hamburgo/RS, Secretaria de Educação do Estado do RS, Santander Cultural (Porto Alegre/RS), Sala Redenção de Cinema Universitário da UFRGS, disciplinas da Faculdade de Educação da UFRGS, cursos de formação de professores e palestras na área da acessibilidade. Foi veiculado ainda na TVE-RS, canal de televisão aberta para todo o Rio Grande do Sul.
Segundo Mianes, o objetivo do trabalho é dar voz às pessoas com deficiência visual, destacando suas potencialidades na relação com o universo artístico e cultural. “Queremos mostrá-las como protagonistas de suas trajetórias de vida, para além dos estereótipos e das restrições”, afirma ele.
Desde os entrevistados até os diretores de Olhares tem diferentes graus de deficiência. Mariana Baierle comenta que ainda existe a ideia de que a pessoa com deficiência visual é apenas o cego. “No documentário buscamos dar espaço também aos indivíduos com baixa visão (aqueles com acuidade visual inferior a 30%), que possuem peculiaridades e representam a maioria entre o público com deficiência visual”, afirma ela.
É apenas de inclusão que precisamos? O que seria realmente a inclusão? O documentário convida à reflexão e ao debate sobre essas e outras questões trazidas no filme.
Para palestras, cursos, exibições públicas do filme ou consultoria em acessibilidade, entre em contato com os diretores através dos blogs: www.arteficienciavisual.blogspot.com ou www.tresgotinhas.com.br.





Link para o vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=GGgcBL6rRVE